Receita antiga

Na década de 60, o Carlos Heitor Cony tinha o que poderia ser um daqueles que eu chamaria de o "o emprego dos meus sonhos": uma coluna no Correio da Manhã chamada "A Arte de Falar Mal". Como deixa bem claro o nome da coluna, Cony abordava assuntos variados nas suas crônicas, sempre falando mal das coisas.

Lendo uma coletânea dessas crônicas, me deparo com uma intitulada "Antropofagia ao Alcance de Todos". Nela, Cony fala sobre um ensaio com o mesmo nome que teria sido criado por um escritor seu amigo. Para colaborar, ele sugere uma série de receitas em que o ingrediente principal é sempre a carne humana. Entre uma receita de "Pernambucano ao Tucupi" e "Cômico de Televisão à Mineira", há o modo de preparo do prato "Coxinha de Publicitário em campanha". Segue a receita:

"Procure um publicitário desses que usam paletó apertadinho dos lados e aberto atrás. Retire as coxas com cuidado, aproveitando as tíbias e o fêmur. Faça o recheio aproveitando pedaços de fígado e dos rins. Leve à frigideira com banha bem quente. O segredo do prato está na procura do espécime. Evite os picaretas. Para saber se pum publicitário, faça um teste. Se o camarada for inteligente, pode jogar fora."

A "plumagem" do animal mudou - nenhum publicitário de hoje em dia usa "paletó apertadinho"; eles preferem as camisetas modernosas. Igualmente apertadinhas, claro - mas a opinião geral sobre o bicho é a mesma há mais de 40 anos....