Pimenta nos próprios olhos...

Li ontem a tal carta pós-assalto escrita pelo Luciano Huck, na Folha. Hoje é manchete em vários jornais aqui no Rio. Muito compreensível a revolta do apresentador global. Quem não ficaria minimamente chateado em perder um relógio (ainda mais um Rolex!) para um assaltante armado (ainda mais com um 38 na cabeça!). Normal, normal....

Mas eu me pergunto: a revolta só aparece quando é com a gente? O assalto alheio não era pra nos incomodar e revoltar também? Claro que Huck até podia se preocupar com a "situação das coisas" antes - e acredito mesmo que ele se preocupasse, já que até ONG o cara dirige - mas o que há de interessante ou novo nessa carta, que justifique tantas primeiras páginas? Nada. Só o fato de ter sido uma celebridade a vítima da vez. Se todo assaltado tivesse direito a uma manchete para chamar de sua, os jornais teriam que vir com 1500 primeiras páginas por dia e ainda não seria suficiente.

Se pelo menos Huck justificasse o espaço a que ele tem acesso escrevendo algo decente, mas nem isso. Quando ele reclama que, por pagar seus impostos não merecia ser assaltado, se esquece que a maioria absoluta dos assaltados também pagam. Ou quando Huk fala que "Está na hora de discutirmos segurança pública de verdade", faz parecer que antes de ter acontecido algo com ele, a segurança não fosse problemática. Outra pérola: "Tenho certeza de que esse tipo de assalto ao transeunte, ao motorista, não leva mais do que 30 dias para ser extinto.". Com essa, o marido da Angélica mostra como é fácil minimizar um problema sem apontar uma solução.

Não pára por aí, mas fica chato ficar esmiuçando a carta de um sujeito milionário revoltado por ter passado pelo seu primeiro assalto. Mas como tudo tem um lado positivo, pelo menos Huck parece ter percebido - agora que nem no Jardins se pode ter paz! - que as coisas estão complicadas até em Sumpaulo. Sair da ignorância é sempre positivo.


O primeiro assalto a gente nunca esquece...