Aversão ao pop

Os ouvintes de música nacional em geral têm um defeito grave: eles detestam qualquer coisa que seja descaradamente pop, não importa sua qualidade. E eu não estou falando "pop" no seu sentido exato, de música popular, vendável, comercial. Falo pop como característica musical, aquelas que têm os elementos que definem tal estilo: melodias assobiáveis, refrões que pegam, produção limpinha, essas coisas.

Parece que gostar de música que toca (ou poderia tocar e as vezes nem toca) em rádio é vergonha. O engraçado é que o pessoal na minha faixa etária (entre vinte e todos e trinta e poucos) que é bem informado sobre o assunto música inevitavelmente cresceu ouvido os grupos dos primórdios dos anos 80: Lulu Santos, Blitz, Léo Jaime, Kid Abelha, Metrô, e congêneres. Na época adoravam os caras; agora, os execram sem a menor piedade.

Não vou dizer que tudo o que eles fizeram - ou ainda fazem - é bom. Alguns dos artistas aí de cima eu nem gosto. O que eu não entendo é o que houve com o gosto musical desse pessoal. Em algum lugar entre o fim dos 80 e o começo dos 90, surgiu um vírus anti-pop que os torna incapazes de ver o valor de certos artistas. É brega gostar de pop. É de mau gosto. É coisa de viadinho. E nessa, não separam o joio do trigo. Tudo que é pop é ruim, mesmo que seja bom. Tacam o Léo Jaime no mesmo saco que os LS Jack da vida. Injustiça é pouco.

Falo isso porque pouca gente reconhece o valor de caras que mandam bem pacas. Querem um exemplo? É démodé gostar do Lulu Santos. O cara é um dos melhores (se não o melhor) do País no que ele se propõe fazer: boa música pop. Alguns vão falar: "Nossa! Que brega!!!" Mas se perguntarmos o porque dessa opinião sobre o cara, não vão saber o que dizer. Ou pior, vão soltar aqueles argumentos vazios do tipo "ele toca nas FMs". O mesmo acontece com outros ótimos compositores pop como o Leoni, Léo Jaime, Herbert Vianna e tantos outros.

"Mas esse cara é louco! Esses caras vendem discos até hoje!", vocês podem pensar. Pois é, alguns (como o Lulu e os Paralamas) ainda vendem e bem. Mas não só pelo seu talento, também pelo apoio de esquemas de marketing que acabam arrebanhando novos fãs. O problema não é quanto o cara vende - aliás, vendagem raramente é parâmetro para qualquer coisa - mas a total falta de respeito com que os "entendidos" de música, os caçadores das "mudernidades" musicais tem com o pop nacional. O Brasil deve ser o único lugar onde não se respeita sua própria (boa) música pop. E o que é irônico é que os que detestam o pop brazuca são os mesmos caras que adoram os Teenage Fanclub, Blur, Depeche Mode, Cure e Smiths da vida. E o que essas bandas fazem? Música pop, que toca em rádio FM, com melodias fáceis e refrões chiclete....

Eles devem pensar o seguinte: você pode ser pop, só não pode cantar em português....