Bota pra f*der!!!

Um dos primeiros discos que eu comprei - ainda em arcaicos tempos analógicos - foi "Viva" do Camisa de Vênus. Ouvir o punk toscqueira e cheio de palavrões dos caras aos tenros 11 anos de idade, no meio dos anos 80, era um pouco demais pros ouvidos acostumados à MPB da minha família, o que me obrigava a ouvir o disco quando minha mãe não estava em casa. Eu não entendia nada da música ainda, e a razão para ouvir o disco ininterruptamente como eu fazia era por causa única e exclusiva dos citados palavrões, que eram sempre acompanhado das gargalhadas da petizada que ia lá em casa só pra ouvir o Camisa. "Sílvia" e "My Way" são as músicas mais cheias de riscos de toda a minha coleção de vinis. Depois de algum tempo e aprendendo mais sobre música, comecei a gostar do disco pelo motivo certo: ele é foda! Pegar a bolacha e ver que das suas 11 músicas NOVE eram censuradas (lembram da notinha? "Proibida a radiodifusão e execução da música tal") me dão até uma certa saudade dos tempos da lei Falcão.

Como eu era pequeno nessa época, não tive chance de ver um show do Camisa, pra meu desgosto, claro, após ter virado fã da banda. Mas no último sábado, a Loud! - no Cine Íris - comemorava sua edição número 100 e tinha como atração principal uma apresentação do Marcelo Nova, tocando com o Bidê ou Balde como banda de apoio. Foi a minha chance de gritar bota pra fuder como deve ser: ao vivo.

Apesar de já estar meio velhinho, Marcelo ainda faz um show duca, com jeitão rockabilly e energia punk. Pela platéia, deu pra perceber que o cara é o herdeiro do Raul Seixas até pelo séquito de fãs que cantavam as músicas mais antigas e desconhecidas inteiras, sem derrapar na letra. E nos clássicos do Camisa, foi fácil: Bete Morreu, Simca Chambord e Eu não Matei Joana D´arc foram literalmente berradas por todos.

No bis, Marcelo voltou e tocou O Adventista, uma das melhores do grupo - foda-se quem reclama que a música é igual aquela dos Buzzcoks, I Belive...É igual mesmo, mas eu esperei por anos pra ver Nova rezando o Pai Nosso no palco - e o clássico neilyougano "Hey, Hey, My, My" numa versão destruidora, com direito a Genival Lacerda e Eguinha Pocotó como música incidental!

Marcelo agradeceu ao público, dizendo que não esperava uma recepção daquelas depois de ficar 5 anos sem se apresentar no Rio. Surpreende-se de bobeira. Fazendo shows como esse, ele sempre vai ser bem recebido, onde quer que se apresente. E olha que o cara fez questão de ignorar o apelo do público e não tocou Sílvia!


Só mesmo o Marceleza pra fazer uma parada dessas!