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[ 3.12.07 ]

Police para quem precisa


Os ingressos para o gramado acabaram faz tempo, assistir a shows na arquibancada do Maraca é ter que se sujeitar a ouvir o eco da banda e não ver quase nada e, acima de tudo, os preços estão pra lá de salgados.

Mas se mesmo assim você ainda não desistiu de ver o The Police no próximo sábado, Arthur Dapieve arranjou cinco motivos para não ir ao incensado show. A coluna é grandinha mas vale a leitura (e antes que perguntem, eu só não vou ao show porque não arranjei um jabá. E 160 realetas para ir de arquibancada não rola)....


"Desde que a realização do show do Police foi anunciada, não passa um dia sem que alguém me pergunte se vou ao Maracanã vê-lo. Estranho. Não entendo o frenesi em torno da banda de Sting, Stewart Copeland e Andy Summers. Por que eu haveria de ir se não quis rever nem Echo & The Bunnymen? Então, comunico à praça: eu não estarei lá no próximo dia 8. Tenho cinco razões para isso, abaixo apresentadas da menos para a mais relevante.

A razão anedótica. Em novembro de 1987, pouco mais de um ano depois daquele que até recentemente havia sido o derradeiro concerto do Police, o superbaterista Copeland e o guitarrista Summers passaram pelo Rio de Janeiro pela segunda vez. Já estavam a bordo de outro trio, chamado Rush Hour e completado pelo baixista de jazz-rock Stanley Clarke. Na entrevista coletiva, realizada no Othon Palace, em Copacabana, eu, repórter pelo antigo “Jornal do Brasil”, vi-me obrigado a perguntar sobre as desavenças de Copeland e Summers com Sting, frisando que um boato chegava a falar em costelas partidas. Summers apressouse em mandar-me introduzir objetos oblongos em partes remotas da minha anatomia. Agradeci porque bem ou mal ele havia respondido. O clima não era de extrema leveza, lógico. Copeland pôs panos quentes dizendo que tudo era apenas aquilo mesmo, boato. De qualquer forma, eles descartaram um reencontro com Sting nos seguintes termos: “Isso é manobra de promotor para vender mais ingressos”. Jornalista é bicho vingativo.

A razão “religiosa”. Não acredito em deuses, salvo, metaforicamente, os do futebol. No Maracanã, já assisti a Paul McCartney, Rolling Stones, Tina Turner, o Rock in Rio 2 inteiro, o próprio Sting solo. Contudo, o único negócio para o qual a idade nos libera é assumir nossas idiossincrasias. A idéia de pisotear aquele santo campo sempre me causou o desgosto que, suponho, um católico sinta ao se imaginar entrando no Vaticano em trajes de banho.

O gramado do outrora maior e ainda hoje mais famoso estádio do mundo já sofreu o bastante sob o peso das multidões no decorrer da sua história quase sexagenária. A última reforma da relva, ocorrida de 2005 para 2006, já de olho no Pan, havia atingido o estadoda-arte, mas as peladas eleitoreiras da turma do ex-secretário estadual de Esportes e atual deputado estadual pelo PMDB Francisco Manoel de Carvalho, o Chiquinho da Mangueira, jogaram o trabalho por terra em menos de dois tempos. A razão financeira. A inteira mais barata estar a R$ 160 (arquibancada lateral) ecoa como uma piada sem graça na vastidão do Maracanã.

Não dá direito a conforto, boa visão ou bom som. O Brasil é um país peculiar: se há derrame de carteiras de estudante falsas ou emitidas por entidades piratas, pune-se o cidadão honesto que paga inteira. Em outras palavras, é a bandalha que estabelece as regras.

Qualquer semelhança com Brasília... Esta razão não é exclusividade do “The Police Live in Rio”, claro. O TIM Festival, por exemplo, também pratica preços de lascar. Senti-me moralmente impedido de gastar mais R$ 360 por duas inteiras para ver algo além de Björk e Antony and The Johnsons. No caso deste estranho Englishman in New York, aliás, foi “ver” no sentido estrito: a platéia palrou durante todo o espetáculo. Ora, quem só queria ferver que pulasse dentro de uma chaleira.

A razão amnésica. Não conservo nenhuma memória do primeiro show que o Police fez no Maracanãzinho, em 16 de fevereiro de 1982, quando estava no auge da carreira, embora eu tenha estado lá. Conservo o meu ingresso laranja como testemunha. Na verdade, a única coisa da qual me lembro é que, naquela noite, jogavam Flamengo e São Paulo. E nem me recordo mais se bem ali ao lado ou lá no Morumbi. Levando em conta que não torço por nenhum dos dois times, esse fiapo de reminiscência decerto não depõe a favor da apresentação de Sting, Copeland e Summers, já descontada a péssima acústica.

A razão musical. Nunca curti à vera o Police, sem nem me interessar em entender por quê. Diante de tantos “você vai?”, porém, fui levado a pensar no assunto e concluir: a banda sempre me deixou frio. Hoje, acho que fez punk de elevador perfumado por uma versão asséptica do reggae jamaicano. Compare-se a “Roxanne” original à adaptação do filme “Moulin Rouge”, “El tango de Roxanne”. Esta, sim, tem tesão, paixão, vida. Talvez por isso, ao contrário da música dos (quase) contemporâneos Sex Pistols, The Clash, The Jam, a do trio oxigenado tenha ficado datada. O Police tornou-se uma relíquia dos 80, anos superestimados pela saudade dos fãs que não os viveram e pela ganância de artistas mortosvivos.

Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio, e eu detesto qualquer saudosismo. No início da carreira solo, o letrado Sting até foi superior ao Police, que nunca teve nenhum álbum inteiro consistente como o “The dream of the blue turtles” (1985) dele. Na minha opinião, o mais interessante da banda foi o quinto e último disco, “Synchronicity” (1983), apesar de as referências a Jung não ocultarem o cerebralismo.

Em termos de Brasil, creio que o maior mérito do trio foi, assim como o UB40, ter influenciado o começo da carreira dos Paralamas do Sucesso, que não por acaso abrirão o show no Maracanã. Sempre na ativa, os expupilos se tornaram muito mais criativos do que os ex-mestres jamais foram. Enfim, divirtam-se, mas não contem comigo.
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