Mãe é mãe...

Estava vendo MTV outro dia desses e lembrei de um diálogo que tive com a minha mãe, vendo a mesma emissora. Antes, vale explicar que minha mãe é a única sexagenária que eu conheço que sabe reconhecer bandas do brit-pop dos oitenta de ouvido. Uma das frases clássicas dela é "Tá ouvindo Smiths? Esse é o Morisey, né?", quando eu ou meu irmão ouvíamos o "The Queen Is Dead", ainda no vinil.

Pois estávamos tomando o café da manhã e a MTV estava naquele que é o melhor horário da programação: não tem Vj´s idiotas para falarem merda e os clipes são estilo "Lado B", com boas bandas de rock alternativo. Passava na hora o clipe de "The End of the World" do último disco do Cure. Falei para mim mesmo, enquanto via o vídeo.

- Putz...Robert Smith está gordo, branco e velho. Decadente como a própria banda.
- E ela ainda se maquia demais - respondeu minha mãe, sem que eu esperasse.

Depois do Cure, passou "Love Will Tears Us Apart" do Joy Division. Como vi que a véia prestava atenção no clipe, comecei a falar um pouco sobre o grupo. "Ah, eles são os caras do New Order? Como são novinhos!". Expliquei que o clipe tinha quase trinta anos e comentei sobre o suicídio do Ian Curtis.

- Estúpido - disse laconicamente.

Depois continuamos falando sobre a banda e sobre o clipe. Enquanto eu me centrava na questão musical, minha mãe falava sobre detalhes com os quais eu nunca me preocuparia, como "Se o cantor está segurando o microfone com as duas mãos, como ele consegue tocar a guitarra?" ou "Olhe! Todos com calças de pregas!"

No fim das contas, percebi que a coroa até conhece um pouco do som das bandas, mas - depois dos comentários sobre o Bob Smith e sobre o Joy - ela se preocupa mesmo é com o comportamento dos caras. Lembro até hoje as críticas dela aos cabelos e roupas dos grupos que ouvia. É incrível como mesmo tratando de um assunto tão inusitado como grupos pós-punk, minha mãe não consegue deixar a mentalidade "mãe" de lado.